Weblog do Igor

maio 13, 2008

Bebedo com o diabo

Filed under: Uncategorized — Igor Costa @ 12:41 pm

Praxedes não se considerava um alcoólatra, mas sempre nos finais de semana, sentia falta de uma cervejinha bem gelada. Quando tinha algum no bolso, não deixava de tomar suas quatro “lourinhas”, tirando gosto com torresmos, na quitanda de João Falador, na Rua do Fuxico.
Um certo sábado, Praxedes estava com muito mais vontade de beber cervejas, que nos outros fins de semana, mas não tinha nenhum centavo no bolso, e não tinha o hábito de beber fiado,embora fosse muito amigo do quitandeiro. Foi até à porta de sua casa e ficou olhando para o estabelecimento comercial, onde alguns amigos estavam bebericando e jogando conversa fora.Chateado por não ter dinheiro para beber, Praxedes resmungou:

– Hoje eu beberia uma cerveja, nem que fosse com o Diabo.

Maria Rosa, sua esposa, estava à máquina de costura e falou:

–  Tá doido homem.Não fala uma besteira dessa. Ele é capaz de aparecer pra ti.

– Aparece, nada. Retrucou Praxedes, que continuava com os olhos fixos na quitanda de João Falador e naquele momento viu chegando ali um homem alto, branco, que trajava calça e camisa de linho branco, levando um chapéu preto de feltro na cabeça. Parecia um homem muito elegante e educado, que cumprimentou e apertou as mãos de todos.
A atitude do desconhecido chamou a atenção de Praxedes, que com a curiosidade aguçada, foi até à quitanda, ficando em pé na soleira da porta. O desconhecido, um homem muito branco de rosto rosado, com  olhos muito azuis, estava sentado em um tamborete e tomando cerveja. Era conversador e tratava a todos como se fossem seus velhos conhecidos.
Em dado momento se dirigiu a Praxedes e perguntou:

– O amigo não gostaria de tomar uma cerveja?

– É, siô, até que seria muito bom, respondeu Praxedes.

– Bote uma geladinha pro moço, disse o desconhecido se dirigindo ao quitandeiro.

Praxedes foi servido de uma, duas três e muitas, sempre a mando do desconhecido. Já alta madrugada, os demais freqüentadores da quitanda já havia enchido a cara e ido embora. João Falador, já doido de sono, cochilava com a cabeça apoiada no balcão, e então o desconhecido se dirigiu a Praxedes:

– Você sabe quem sou eu ?

– Sei. O senhor é uma pessoa muito boa, que me obsequiou com cervejas. Uma pessoa muito boa. Disse Praxedes, já bem cambaleante.

– Estás enganado. Eu sou o Diabo. Retrucou o desconhecido, tirando o chapéu da cabeça, deixando à mostra um reluzente par de chifres bastante negros.

Praxedes  olhou firmemente para os chifres que se sobressaiam entre os cabelos muito louros do desconhecido, e retrucou muito decidido:

– Que Diabo, nada. O senhor é marido destas mulheres que vão ao  Paraguai fazer compras.

O desconhecido soltou uma estridente gargalhada e desapareceu, deixando a quitanda de João Falador envolta em uma densa nuvem de fumaça  com forte odor de enxofre.

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